Microcontrolador "brasileiro" ZR16S08

[xultz]

Esse negócio de tema é uma coisa complicada. Quando estava na faculdade, eu percebia que os professores viviam numa pequena bolha e não conseguiam enxergar além dela. Como é uma universidade federal, é tudo professor concursado com muitos anos de dedicação exclusiva à universidade. E muitos têm pouco contato com o mercado e a indústria, em muitos eu sequer vi interesse de se atualizar quanto a estes aspectos (prá quê, se ele é funcionário público concursado?). O universo deles se resume a participar de congressos onde os últimos tópicos de pesquisa de ponta são mostrados.
Por exemplo, eu estava fazendo um projeto integrado que foi parte do meu TCC, cujo objetivo era monitorar geladeiras que armazenam bolsas de sangue. O problema é simples e atual: as bolsas de sangue devem ser armazenadas em geladeiras e a temperatura deve ser monitorada. Existem normas rígidas que especificam esta temperatura, e se ocorrer um problema na refrigeração, as bolsas devem ser descartadas. E geladeiras pifam, enquanto a demanda por sangue é maior que a capacidade de arrebanhar doadores. O projeto tinha como objetivo monitorar a geladeira, e se identificasse algum desvio que indicasse algum problema, gerava uma série de avisos por email, sms, o que for, prá alertar os operadores e resolver a situação antes de perder o sangue, simples e muito útil.
Uma partezinha do projeto monitorava se a geladeira tinha energia, se a energia acabasse, gerava alarmes. Foi o suficiente para o orientador pirar. Ele queria que eu fizesse um circuito que medisse a qualidade da energia, gerar uma quantidade bem grande de informações, e cruzar com informações de falhas do refrigerador utilizando mineração de dados, a fim de poder traçar uma metodologia que pudesse prever com precisão quando o refrigerador iria dar defeito e realizar manutenção preventiva no motor do compressor. O problema aqui são dois: eu não conseguiria gerar números em tempo hábil prá fazer essa masturbação matemática, e o custo do circuito que teria que colocar em cada refrigerador prá monitorar a qualidade de energia sai mais caro que agendar uma manutençaõ preventiva uma vez por ano. Só que colocar um circuitinho besta que identifica se tem 220V na tomada da geladeira não gerar paper, enquanto aquela parafernalha e algoritmo de mineração de dados dá um paper bem bonitão que poderia levar o orientador prá passear em algum congresso...

[tcpipchip]

"Ele queria que eu fizesse um circuito que medisse a qualidade da energia, gerar uma quantidade bem grande de informações, e cruzar com informações de falhas do refrigerador utilizando mineração de dados, a fim de poder traçar uma metodologia que pudesse prever com precisão quando o refrigerador iria dar defeito e realizar manutenção preventiva no motor do compressor."

Acho que ele não queria lhe orientar...

[eletroinf]

Esse problema das universidades brasileiras estarem fora de sincronismo com a indústria é bem simples de explicar, ao menos é o que eu vejo aqui.
Existe uma praga chamada sindicato, para o qual qualquer tentativa de interação com a indústria é vista como privatização.
Logo, a área de tecnologia pena muito para ter um mínimo de contato com a indústria, ao mesmo tempo que a indústria não se interessa em buscar a universidade para solucionar problemas, como acontece em países desenvolvidos.
Resta ficar em seu mundo, a não ser naqueles casos que são exceção, nos quais os professores buscam o que está em demanda na indústria para trabalhar. Só entrei na pós-graduação porque meu tema tem aplicação e demanda no mercado, senão não teria entrado no projeto.
Enfim, a política (por sinal, péssima) comanda até isso e ajuda a manter o sistema bem socialista e burro.

[pamv]

Por aqui o sindicato não apita em convênios universidade <-> empresa e esses tipos de coisa não são associado à privatização.
Tem professor que ganha os tubos de dinheiro com consultorias e serviços para empresas.

A parte de desenvolvimento e inovação tecnológica é outra história, ela simplesmente não engata e quando engata não anda pra lugar nenhum a não ser quando a empresa é de grande, bem grande, porte.

[pamv]

Rios de dinheiro, e gastos pelo sistema pra manter o sistema. Quando propuz ao professor de redes neurais um projeto na ocasiao (1995) até comercialmente viável e util pra sociedade, reconhecimento de impressão digital, ele nem quis saber; só aceitaria se fosse para tracking de trajetória de particulas subatomicas, isso porque era a bola da vez no mundo academico e ele queria apresentar mais um trabalho com "visibilidade". Fiquei com nojo, e escolhi outro orientador com outro tema para o TCC. Mas não fiz pós, eu não era amigo do Rei...rsrs. Ahhh, sobre o microcontrolador da UFSM, acho que eu teria o batizado com outro prefixo, algo tipo BR16S08...

Eu creio que até hoje estão fazendo aparelhos para tracking de trajetória de partículas subatômicas, mas agora é na física da UFF

[egipts]

Eu gostaria de usar um mcu Tupiniquim antes de morrer...

Eu não tenho pretensões tão patrioticas assim, eu gostaria de ver um corte de impostos bem bruto e viver num pais de economia liberal antes de morrer...

Se não houver giro, não há como a empresa sobreviver e poder reinvestir... Mesmo que seja um ou dois centavos mais caro, porém de boa qualidade, eu prefiro apostar nele... abraço.

[rtek1000]

Bom, eu também queria deixar meu palpite,

Se o microcontrolador tivesse os recursos de um PIC18F4550, e preço similar (quase R$50 em algumas lojas) acho que seria possível se manter no mercado.

E quanto aos compiladores, acho que não demoraria para alguém adaptar a IDE do Arduino, por exemplo.

De acordo com o datasheet, a tensão de alimentação poderia estar entre 5V a 28V, o que é interessante, pois grande parte dos pequenos projetos de automação costumam usar relês, e geralmente são 12V. Porém ao se usar o regulador interno, se limitaria ao máximo de 2mA de corrente para cada saída (*4), o que não daria para ligar nem LED's diretamente.
(*4: Limitada `a corrente fornecida pelo regulador, ver mais detalhes no datasheet)

Uma observação interessante, para um brasileiro que nunca leu um datasheet de um microcontrolador na vida, é começar a ler este datasheet, pois estando bem escrito em Portugês, será muito mais fácil assimilar quando for ler o de um PIC, claro que ainda assim, não espero que se sintam confortáveis ao tentar ler de um Atmel (agora de propriedade da fabricante do PIC, a Microchip).

Enfim, acho que vale a pena pelo menos ler o datasheet, afinal pelo menos está na língua local, e são apenas 37 páginas (contra 234 do PIC16F877), olha só as "Features":

Características
Microprocessador
•
24 instruções. (contra 35 do PIC comum, 16F877)
•
16 registradores, pilha de 4 posições de contexto para armazenamento. (contra pilha, ou 'stack', de 8 do 16F877, a qual se usa muito para multitarefas)
•
8 bits de largura do barramento de dados.
Memória
•
Memória de programa EEPROM de 1024 x 16
bits.
•
Memória de dados SRAM de 256 x 8 bits.
Periféricos digitais
•
Timer
de 16 bits, base de tempo de 1μs.
•
Watchdog
com tempo de expiração configurável.

Periféricos analógicos
•
Conversor anal ́ogico para digital com 10 bits
de resolução (ADC).
•
Sensor Capacitivo, Comparador de 2 entradas
analógicas ou de uma entrada analógica contra uma referência.

Conversor digital para analógico (DAC), consiste em 3 saídas de corrente com capacidade de 30V/20mA.

Clock e alimentação
•
Oscilador interno de 4MHz.
•
Regulador de tensão com entrada entre 5 e 28V.

Interfaces externas
•
Possui 16 pinos, dos quais, alguns são multifunções.
•
9 saídas e 6 entradas digitais.
•
3 saídas dreno aberto ou saídas espelho de corrente, programáveis de 0 a 20 mA.
•
4 canais de entrada analógicos.
•
Reset externo configurável.
•
Interface de programação de dois fios.

Interrupções
•
Interrupções internas são para o conversor
analógico para digital e para o Timer.
•
Interrupções externas, podem ser configuradas com sensibilidade à borda ou nível.

[KrafT]

Não creio que alguém aqui tenha dificuldade em ler datasheet em inglês. Ter o documento em português não é nenhum diferencial.

Reiterando... Não importam os recursos que o microcontrolador em questão tenha, em algum projeto ele vai se encaixar. O que é impeditivo sim, são o custo e a disponibilidade. As ferramentas de desenvolvimento podem ser um obstáculo, mas dá para administrar.

[andre_luis]

Fico curioso em saber se eles realmente fazem a 'fundição' dos CIs, ou se em sendo uma Design House, se apenas o projetaram e terceirizaram o fabrico. Se foi esse o caso, teria margem para produzirem quantidades menores que várias dezenas de milhares por lote, ou seja, com menos fornadas em fabricantes terceirizados podem ter uma quantidade suficiente para se colocarem no mercado, apesar do valor minimo ficar limitado. Se tiverem um departamento de marketing decente, poderão até fazer propaganda em escolas técnicas e universidades; de um modo geral a garotada tem mais patriotismo que nós velhos rabugentos.

[tcpipchip]

os anais da EMICRO
(Escola de microeletronica)
explicam bem a construção